A espasticidade no AVC
| |A espasticidade (também chamada de hipertonia espástica) é uma consequência complexa das lesões neurológicas e leva o paciente a dor, luxação, encurtamentos, deformidades, paralisia dos movimentos e incapacidade funcional.
O seu manejo não é simples, em nenhum tipo de paciente. A espasticidade no AVC (Acidente Vascular Cerebral) causa um quadro postural típico, sendo importante que familiares e cuidadores tenham alguma noção para lidar com tal disfunção, a fim de ajudar na melhora do paciente.
A espasticidade é caracterizada por uma contração anormal, exagerada, da musculatura afetada. Esta contração é fruto de reflexos não mais controlados pelo sistema nervoso central, devido a lesão. No artigo “Entenda melhor a Espasticidade“, tem uma explicação mais didática sobre o assunto.
Principal disfunção do físico e do movimento
A espasticidade pode assumir um quadro corporal mais amplo, como em casos de traumatismo craniano ou paralisia cerebral, sendo de difícil manuseio. Mas é comum acometer somente um lado do corpo, causando uma hemiplegia. Nestes casos, o paciente quase sempre tem a possibilidade de fazer compensações físico-funcionais com o lado não afetado.
O AVC causa uma hemiplegia espástica, onde o braço se mantém fletido (dobrado) e a perna tende a ficar estendida, muitas vezes com a ponta do pé pressionando o chão. A espasticidade no AVC é a principal disfunção do físico e do movimento a ser recuperada.
Sua melhora depende de sua gravidade, associada a fatores como reflexos anormais (hipereflexia, aquele efeito de chute quando se dá uma batidinha no joelho com o martelinho), falta de força, diminuição da propriocepção, perda de sensibilidade e outros.
Inibindo a espasticidade
Existe um conceito importante em reabilitação neurológica: não se sobrepõe movimentos normais em movimentos anormais. Em outras palavras, é preciso começar inibindo a espasticidade, inibindo esta contração exagerada. desde o início da reabilitação. Depois, deve-se provocar padrões de movimentos mais ou menos normais de braço, perna e tronco; evitando-se, assim, a aquisição, por parte do paciente, de padrões forçados de movimentos, pouco funcionais e com gasto de energia excessivo e que reforçam a rigidez espástica.
Em pacientes comprometidos há mais tempo, que conseguiram recuperar parte de sua função sozinhos ou através de trabalhos não especializados, isso é comum e dificulta muito o trabalho de reabilitação.
Através do manuseio se consegue inibir relativamente a espasticidade, mas isto nem sempre é fácil. E, como se trata de um reflexo neurológico crônico, manter esta inibição é mais difícil ainda. Por parte do paciente hemiplégico, seus próprios movimentos com o lado não afetado aumentam a espasticidade no lado afetado.
Por exemplo, em pé existe um desequilíbrio, medo de queda, desvio portural para o lado não afetado, fixação da perna em extensão (como um pilar), incapacidade de trocar passos sem a iminência de queda. Como resultado, o lado não afetado tende a ir na frente, arrastando o lado afetado.
A inibição da espasticidade pode ser conseguida por movimentos passivos, que são aqueles feitos por outra pessoa; ou por facilitação ativo-assistida, que também é feita por outra pessoa, mas com participação do paciente. São formas diferentes que precisam habilidade por parte do profissional, mas podem ser minimamente ensinadas e praticadas por familiares, a fim de ajudar na reabilitação.
Aqui, é importante lembrar que um manuseio errado realizado pelo fisioterapeuta ou familiar , aumenta a hipertonia, piorando o quadro disfuncional.
Assimetria corporal
Parte da recuperação do movimento do paciente hemiplégico espástico vem da tentativa de minimizar a diferença (assimetria) entre os dois lados do corpo. Acima de tudo, tentar com que o paciente reconheça mais o lado afetado e, assim, possa dominá-lo melhor.
Esta falta de reconhecimento do lado afetado é real e chama-se negligência. Esta acontece, em geral, por alteração de diferentes formas de sensibilidade (do sentir) processadas pelas áreas cerebrais acometidas pela lesão. O paciente não sente mais o lado afetado da mesma forma que o outro lado, não conseguindo enviar comandos normais. Então temos a associação de espasticidade com alteração da sensibilidade, impossibilitando controle postural adequado e movimentos livres.
A espasticidade no AVC pode melhorar
Mesmo que, como é aceito, a maioria dos pacientes com AVC volte a caminhar de alguma forma, buscar a funcionalidade (que é realizar atos como levantar, sentar ou caminhar com alguma facilidade) em todas as posições e trocas de posturas é necessário.
A espasticidade no AVC é tratada promovendo a passagem do decúbito dorsal para os decúbitos laterais e ventral; a passagem do deitado para o sentado; do sentado para o em pé; e, posteriormente, a aquisição da marcha o mais simétrica possível. Ou seja, tentamos inibir a espasticidade através de manuseio e acrescentamos movimentos funcionais.
Por últimos, lembramos que deve-se usar talas de mão, talas de pernas (ver imagem do início) e outros recursos para manter os músculos afetados em posições de alongamento, fugindo da contração exagerada que, caso não considerada, por certo levará o paciente a encurtamentos e deformidades, dor e luxação.
Adriano Daudt
Fisioterapeuta
Crefito5 19368F
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