Tendinites, Bursites e o Processo de Inflamação Crônica
| |Tendinites e bursites são as principais responsáveis pela dor aguda e crônica de certas articulações, principalmente os ombros, os cotovelos e os joelhos. Também afetam bastante o quadril, punhos e mãos e os tornozelos. Quando graves e não tratadas, levam à incapacidade parcial ou total, numa progressão implacável.
Que progressão é esta?
Os dias de hoje estão proporcionando um aumento impressionante de pessoas com tendinites, bursites, fibromialgia, síndrome da dor miofascial, má postura e outras causas de dores corporais. Os motivos incluem o stress, o movimento repetitivo, a alimentação, a falta de exercícios e uma tendência natural (genética) e/ou adquirida. Em menor proporção, fatores traumáticos como quedas, choques ou movimentos bruscos inadequados podem ser a causa.
Você está com dor em alguma região do corpo e se pergunta: “O que está acontecendo comigo? Estou cada vez pior desta dor. É impossível fazer o que eu fazia antes. Quando deito para dormir piora, lateja, me acordo de madrugada com dor. Tomo remédio e não adianta. Minha produtividade está cada vez menor. Estou com problema para trabalhar. Não consigo mais disfarçar ou me adaptar…”
O que está acontecendo é um processo de cronificação de um ou mais problemas musculoesqueléticos, provavelmente tendinites ou bursites. Um processo que não deve ser recente. Provavelmente é bem antigo. Mas o seu corpo, por ser inteligente e capaz de curar a si próprio durante algum tempo, vinha dando um jeito. Vinha evitando de todas as formas que você sofresse mais. Mas chegou uma hora que a sua capacidade de recuperação natural não conseguiu mais superar o acúmulo das forças deletérias e sucumbiu. Foi aí que você percebeu que… “É impossível fazer o que eu fazia antes”.
E isso não é tudo. Se no início, o epicentro do problema, um pequeno desconforto no ombro, talvez por excesso de uso, era desprezado ou suportável, com o tempo passou a uma inflamação real. Mas foi “curada” com algum medicamento. E, porque não, o uso excessivo continuou. Você não percebeu, mas seu corpo passou a fazer compensações posturais sutis, a fim de se proteger desse contínuo excesso. E, de repente, aquele desconforto já desceu para o cotovelo… e para o antebraço… e para as mãos… e para as costas… e, bem, onde tudo começou mesmo? Já não importa, a dor se espalhou e uma área corporal bem maior precisa ser tratada. Senão, o corpo todo.
A inflamação crônica
O processo de stress progressivo que o corpo sofre, cada qual com a sua causa específica, leva-o a pequenas lesões. Os tecidos se desgastam e vão se rompendo, ficando fracos. Mas para a lida diária, o uso precisa continuar. A fim de atingir certa funcionalidade, agora diminuída, mais uso com mais desgaste acontece, levando a mais lesões. Surgem a inflamação e a dor. Processos inflamatórios são químicos. E substâncias químicas que, num primeiro momento, serviram para proteger o corpo das pequenas lesões, agora são lixos acumulados e venenosos que ajudam a “intoxicar” tendões, músculos, fáscias e bursas (daí o termo “bursite”), além de outros tecidos, inflamando-os e enfraquecendo-os. A inflamação crônica é lesão, inflamação e dor em cima de lesão, inflamação e dor. É a dor crônica que se agudiza por vezes, e a dor aguda que se cronifica definitivamente.
Tal processo de cronificação da dor traz consigo graus diferentes de incapacidade funcional. Às vezes, esta é representada por dificuldades dribladas ou adaptadas; outras vezes, ela é impossível de ser superada, afastando a pessoa de suas atividades mais importantes.
E nesta esteira, contínua e prolongada, surgem outros elementos para mais atrapalhar, tais como depressão (ou apenas tristeza), mau-humor, dificuldades de sociabilização, desinteresse sexual, uso excessivo de remédios, diminuição de concentração e outros.
Fatores que aumentam os casos de cronificação das tendinites e bursites
Tenho constatado dois fatos significativos que colaboram para que pacientes com dor de origem musculoesquelética inflamatória não consigam se curar e, o que é pior, cronifiquem essa dor.
1: a pessoa não busca tratamento adequado em tempo hábil ou trata de forma leiga, sem acompanhamento formal; e, 2: quando busca ajuda, o seu quadro é subdiagnosticado (não suficientemente identificado) e, por via de consequência, subtratado (tratado de forma ineficaz).
Isso acontece tanto com pacientes que vieram direto do médico, quanto com pacientes que vieram de serviços de fisioterapia onde, muitas vezes, já realizaram quarenta, sessenta ou cem sessões de reabilitação.
Além da inflamação
Mesmo quando existe um diagnóstico formal e correto de tendinite ou bursite, feito pelo médico e confirmado ou não por exames de imagem, acabo descobrindo mais sinais e sintomas não relatados e, por certo, ainda não percebidos pelo paciente. Isso porque os sintomas principais abafam os menores. Com o passar das sessões, é possível encontrar contraturas, fibroses, pontos nevrálgicos, encurtamentos, colabamentos ou calcificações. A extensão desses danos diz o que se pode esperar do tratamento e do resultado, mas todos estes achados são passíveis de recuperação ou franca melhora. E, apesar deles, os efeitos benéficos da fisioterapia adequada surgem desde a primeira sessão, levando o paciente a nova esperança.
Como eu trato as tendinites e bursites
A mão do profissional é fator diferencial num tratamento fisioterapêutico. A mão que “enxerga” é a mão que tem “olhos nos dedos”.
Não existe somente uma fórmula para tratar de forma eficaz e duradoura processos inflamatórios. O conjunto formado por medicamentos e recursos físicos de reabilitação deve ser suficiente para que haja a regeneração dos tecidos esperada, desde que se considere os motivos citados no início deste post (stress, movimento repetitivo, alimentação, falta de exercícios tendência natural (genética) e/ou adquirida, quedas, choques, movimentos bruscos, demora para iniciar o tratamento).
Enxergar o problema principal do paciente é dever do fisioterapeuta que vai tratá-lo. Em outras palavras, fazer o diagnóstico físico-funcional correto é fundamental. Depois, usar da sua experiência e do seu método para adaptar àquele caso específico.
Tenho tratado meus pacientes com tendinites e bursites usando muito ultrassom, métodos manipulativos de regeneração de tecidos moles (tendões, bursas, fáscias, músculos e outros), massagens direcionadas, gelo, alongamentos e reforço muscular posterior.
Considero que a reabilitação de um paciente com inflamação e dor é a recuperação do todo. De forma geral, a melhora se dá do mais distante para o centro, ou seja, primeiro ocorre a melhora dos tecidos mais superficiais (aquela dor que se espalhou) e, aos poucos, se alcança o ponto original, curando-o.
Fico à disposição.